A menina que brincava com as folhas: reflexões em um café

Enquanto olho números, minha alma voa.

Tenho três planilhas de excel abertas enquanto trabalho em um café. Entre um número e outro, uma menininha de mais ou menos um ano e meio brinca com folhas espalhadas pelo chão do café que ainda tem árvores ao longo do jardim.

Ela me olha e sorri. Presta muita atenção no que faço. Me pergunto se ela sabe o que estou fazendo… E se ela soubesse, quanto se importaria com os indicadores daquele projeto, com a alocação do overhead naquele orçamento, ou com os prazos das diversas entregas no cronograma.

Enquanto olho os números, minha alma voa. Queria estar em qualquer lugar, menos aqui. Não digo aqui, no Café. A música está boa, então, até que estar no café está agradável. Bem agradável. E as vozes das pessoas à minha volta também fazem parte desse coro que é a vida. Tudo em harmonia. Ninguém aqui grita. Que bom, detesto gente que grita. Aposto que minha companheira também.

Enquanto olho a pequena que rodopia em volta da árvore, observo sua alegria em tocar as folhas no chão. Imagino: que textura devem ter aquelas folhas?Como será seu aroma? Que peso devem ter naquelas mãos pequeninas? A menina ri e se delicia, jogando as folhas para cima e sentindo-as cair em si enquanto tenta se manter de pé, equilibrando-se. Ela nem imagina que tem uma observadora apreciando seu encantamento, completamente alheia que ela está a tudo o que não seja a experiência daquelas folhas “mágicas”. Assim estou, eu também.

Percebo que, por um instante, o pai da menina também se encanta com o deliciamento da filha. Ganho meu dia, pois sempre me alegra ver pais e mães que se conectam com a alegria desbravadora de seus filhos, enquanto descobrem coisas novas e reveladoras sobre a essência do que é viver. Resolvi então ceder a minha pequena interna que não queria saber de planilhas de excel e que se pudesse, estaria no chão jogando folhas para cima com sua nova amiga. E foi assim que nasceu esse breve poema:

Quero uma vida

por Barbara Oliveira

Quero uma vida com mais poesia e menos prosa, onde histórias são contadas ao som de melodias que embalam o corpo e a alma.
Quero uma vida com mais alegria e menos arrependimento,
onde possamos celebrar cada dia como se fosse último e nos esquecermos das decisões que tomamos e que não nos serviram.

Quero uma vida onde comemoro o sol nascer e a lua despontar, porque mesmo os eventos cotidianos são inusitados quando se olha com novos olhos o que já se viu mil vezes.

Quero uma vida com mais sentido e menos dúvida,
onde a saída estratégica pela esquerda é uma escolha e não um atalho para nos poupar da dor e da traição que uma entrega pode implicar.

Quero uma vida com mais saúde e menos treino, onde cada ato seja o cultivar do bem estar e não um remediar dos deslizes anteriores, ou das faltas de juízo.

Quero uma vida onde o mais seja menos e o essencial sempre tenha espaço, o sentir seja pleno, o pensar, abundante e a música uma constante companhia da dança que é viver.

E só assim quero viver.”

Obrigada, querida criança, que me lembrou, com tamanha simplicidade e sem qualquer esforço, o que é, realmente, essencial, no dia de hoje. Seja sempre bem vinda!

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